Tanto o homem como a mulher iniciam a sua trapnsição para a parentalidade como entes separados e distintos, com diferentes percursos individuais mas com um mesmo fim em vista, a formação de uma família. Daí que o homem e a mulher com diferentes características biológicas de personalidade, com distintas atitudes, prioridades e formas diferentes de gerir os seus vários papeis sociais, perspectivem este momento de transição de forma distinta (Ramos, 2006).
A transição para a parentalidade tem início com o desejo e a decisão de ter filhos ou com uma gravidez inesperada e não-interrompida, prolongando-se até a construção de uma relação triádica e tendo sua intensidade máxima nos primeiros meses após o nascimento do bebé (Cerveny e Berthoud, 2002 apud Wendt, 2006).
O homem que quer tornar-se pai evoca “o desejo de ser completo; o desejo de realização de ideais e oportunidades perdidas; o desejo de igualar-se ao próprio pai ou mesmo superá-lo, ao desempenhar melhor o papel parental; ou o desejo de responder a dúvidas sobre a sua masculinidade e duplicá-la” (Gomez, 2005, p.268). Os pais esperam que a criança seja um pouco eles próprios com as suas semelhanças, maneiras de agir ou de comportar, “eternizando-os na história da humanidade e oferecendo-lhes narcisismo e sentimentos todos- poderosos” (Bayle, 2005, p.323).
Muitas mulheres sempre desejaram um bebé e ansiaram por serem mães. Este desejo inicia-se muito cedo na vida de cada mulher, nas memorias que ela tem de ser cuidada quando criança (Bobak, Jensen e Lowdermilk, 1999). A percepção do seu grupo social sobre o desempenho feminino pode influenciar o seu projecto de vida. A maternidade pode ser encarada como um dos aspectos mais importantes no seu projecto de vida, relegada ou adiada para segundo plano em detrimento de uma carreira profissional (Monteiro, 2005).
Cada vez mais, o projecto de vida pessoal e do casal passa por um adiamento da maternidade (Almeida et al, 2005). Este adiamento da maternidade reflecte as mudanças que se têm verificado no ciclo de vida do casal, nomeadamente quanto à participação no sistema de educação e formação, à inserção no mercado do trabalho, à entrada na conjugalidade, à formação da própria família e, consequentemente, à entrada na parentalidade (INE, 2007).
Ser pai/mãe representa ser agente de continuidade, ser capaz de assegurar a descontinuidade, os limites e as diferenças entre gerações. É o transmitir heranças genéticas, valores, costumes e significados em intimidade e aceitando as diferenças (Canavarro, 2001). Este processo está associado ao conceito de maturidade, como refere Noam apud Canavarro (2001, p.18) que é definido como “capacidade de percepcionar a realidade de forma complexa e multifacetada e integrar ideias que parecem contraditórias”.
A maternidade/paternidade transcende em tudo a mera gravidez, assume-se como sendo um projecto de longo prazo (no mínimo dezoito anos), envolvendo a suficiente prestação de cuidados e dádiva de amor que possibilitem um desenvolvimento sadio e harmonioso à criança. Desta forma, distancia em quase tudo do acontecimento biológico que é a gravidez, exigindo iniciativas, actuações, responsabilizações. Requer que, mais do que se deseje ter um filho se deseje ser mãe/pai (Canavarro, 2001; Leal, 2005).